Crónicas de um Sem Nome – Parte 6

Crónicas de um Sem Nome – Parte 6

“Estamos em greve”. Foi essa a expressão final utilizada por uma representante do comando de greve, durante uma assembleia somente com a presença dos estudantes. A maior parte das universidades federais do Brasil, pautaram pela paralisação por causa do corte no orçamento de estado para a educação. Uma situação bastante complexa para a comunidade estudantil, que normalmente é a que mais padece com esses problemas e reivindicações. No caso particular da universidade onde o Sem Nome coabita “estudantilmente”, outras questões a mais precisam ser reivindicadas e postas em cima da mesa, de modo a melhorar as condições académicas como sustentabilidade para os caminhos vindouros. No começo, ele não estava a favor da greve, mas na medida em que o seu conhecimento quanto ao assunto foi aumentando, o pensamento mudou. Pois, na vida, o ser humano necessita ter um bom nível de engajamento político para reclamar o que precisa ser reclamado, dentro dos seus direitos de cidadão. Uma sociedade permissiva e passiva dificilmente forma indivíduos que proponham mudanças.

Além disso, essa greve apareceu num momento em que aquele-que-brevemente terá-o-seu-nome-revelado estava mesmo a precisar dumas “férias” urgentes. Mesmo sabendo que estar em greve não implica entrar de férias, ele não pode negar a utilidade que a mesma proporciona nesse sentido. Os últimos acontecimentos o têm deixado muito abatido, e meio sem concentração para os estudos. Apesar de ter a plena consciência que isso “não devia acontecer”, ele sabe que “ás vezes acontece”. E a sua mãe, Dona Ernestina, está preocupada com isso, então, para mantê-la mais sossegada, ele a vai mantendo desinformada em relação a certos aspectos, para poder poupá-la dessas preocupações. Porque conhece muito bem a peça, e sendo um “boló”, filho único, o sentido de proteção materna assume uma proporção muito mais elevada. Recordando que aos 9 ou 10 anos de idade, o Sem Nome, era um garotinho tímido, mimadíssimo, que adorava ficar debaixo das “saias da mama” e odiava ficar longe dela, até nos instantes em que dormia na casa do seu primo querido, de quem gostava muito. Ele chorava “baba e ranho” pra regressar ao aconchego que, na altura, ficava na roça Agostinho Neto.

Quanto á Érica, a garota exótica que vai perdendo seu exotismo devido ao excesso de gordura e falta de autoestima, continua presa naquela situação desesperante. Permanece à mercê dos desmandos do tal Rodolfo, que segundo as suas ingénuas palavras, tem estado pacífico, num comportamento latente de violência que lhe deu o direito de ser digno doutra oportunidade. Mas ele, o Sem Nome, sente que agora ela anda ocultando verdades, mentindo e aparentando uma felicidade que não se coaduna com a tristeza daquele olhar outrora bué alegre, sedutor. Mais um triste exemplo que acaba sendo encoberto, facilitando a vida daqueles que cometem esse tipo crime, porque existe uma lei demasiado cómoda, rígida e teórica que não contribui para coibir ninguém, aliás, até é capaz de incentivar o “bom nome” dessa violência imposta, que está em vias de crescimento devido a enchente de casos encobertos.

Os seus sentimentos têm sofrido tantas reviravoltas. O caos está instalado. Toda essa ventania de situações que vai circulando, só fica alimentando uma confusão mental no Sem Nome. Pois, quando parecia que a Érica já era coisa do passado, e a Cadijatu, a Pipoquinha Negra, ia aparecendo como uma alternativa de fuga, ele voltou a cair na rede daquela garota exótica, mesmo sabendo que as chances de tudo voltar a ser como era no início, lá em São Tomé, estavam praticamente reduzidas a pó. Porém, parece que o amor nos escolhe e não o contrário. Com os 25 anos de existência, ele tem sido um “exemplificamento” disso, e por enquanto nada tem acontecido na perspetiva de alterar essa forma de destino. A verdade é que, a sinceridade num relacionamento é muito bom, mas tem vezes que o excesso “dela” acaba estragando tudo. A Pipoquinha acompanhou a estória toda entre eu e a Érica, e isso de algum modo inibiu os dois de se relacionarem mais intensamente. Eles estão momentaneamente dispersos. “Acho que é melhor ficar sozinho”, foi este o desabafo do Sem Nome.

Estava na rodoviária, em Salvador. Já tinha comprado o bilhete para se deslocar á São Francisco do Conde. Seria uma viagem de ônibus com cerca de 1h e alguns minutos, com o objetivo de visitar um grande amigo e compatriota seu. Depois, participar numa festa que se realizaria por lá e permanecer 3 ou 4 dias na casa dele para conhecer bem esta cidade no interior da Bahia. Aproveitando esse recesso forçado para recarregar algumas baterias, enquanto os dias correm para a surpreendente revelação da sua identidade.

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